A onda e a sombra
Ainda não me descobri um escritor. Que pena. Falta-me berço, base e erudição. Quem escreve capta o que todos sabem, mas não conseguem dizer. Quando lemos nos tornamos parte de um mundo que nos parece familiar, mas ao mesmo tempo desconhecido. Fui afortunado nestes últimos dias ao iniciar a leitura de “Os miseráveis”, clássico mundial escrito por Victor Hugo em 1862. Sua pena foi lancinante. Suas idéias profundas e reveladoras. Em meio a tantas riquezas oriundas de sua obra, garimpei um trecho para compartilhá-lo com você. Por favor, leia essa metáfora, sem pressa, e com a alma desprotegida. (...) “Homem ao mar! Que importa? O navio não pára. O vento sopra, o sombrio navio continua em sua rota forçada e passa. O homem desaparece, depois reaparece, mergulha e volta à tona, chama, estende os braços; ninguém o ouve. O navio, estremecendo sob o tufão, está voltando a suas manobras; nem os marujos nem os passageiros vêem mais o homem submerso; sua cabeça é apenas um ponto escuro na imensidão...