Rosas, perfumes e espinhos.
Weslei Odair Orlandi
Tenho tido dificuldades para escolher uma única palavra que defina hoje o meio evangélico brasileiro. Concordo com Augustus Nicodemus quando ele afirma que “é mau sinal quando para nos identificarmos precisamos lançar mão de três ou quatro atributos”. É evidente que a crise teológica evangélica no Brasil é gigante. Cada vez mais pessoas procuram igrejas para se sentirem bem, para buscarem solução imediata para os seus problemas, sem sequer refletir nas questões mais profundas de sua existência e eternidade. Isto, de se aglomerar multidões sem a centralidade da cruz, não é vantagem alguma. Ao contrário, estamos diante da necessidade premente de que algo seja feito.
O quase-conformismo das igrejas históricas e pentecostais face ao liberalismo teológico e barateamento hermenêutico dos neopentecostais precisa ser repensado com urgência. Toda leniência será castigada. Para quem não está familiarizado com o termo, “neopentencostais” são aqueles que aderem à teologia da prosperidade e à batalha espiritual, que dão autoridade às novas revelações e optam por um modelo eclesiástico episcopal centrado nos auto-intitulados bispos e apóstolos.
Penso que estamos agindo como as árvores da parábola de Jotão. Talvez o vocábulo “resignação” capte bem o espírito das árvores sem rei. Recorde comigo a história contada no livro dos Juízes.
Era uma vez – e agora de novo – um reino cujos cidadãos eram árvores. Certo dia eles decidiram ungir um rei para si. Logo pensaram na Oliveira, árvore frondosa, saudável e muito respeitada. Feito, porém, o convite, a Oliveira disse não. Ocorreu-lhes então que a Figueira seria uma excelente alternativa. Porém ela também declinou do convite. Optaram então pela Videira. Com sua capacidade de produzir o mosto tão apreciado pelos homens talvez aceitasse a coroa. Oficializado o convite, a Videira tampouco aceitou a nobre função. Aflitas e impotentes as árvores não tinham mais escolhas. Foram até o Espinheiro. Convidado para a função real, ele viu ali sua galinha dos ovos de ouro. Seu reinado seria muito mais do que mera função administrativa. Rapidamente aceitou o cetro. É verdade que ele não tinha muito que oferecer. Ao contrário da Oliveira que produzia o requisitado azeite, da Figueira que com seus frutos saborosos e doces assanhava os paladares, e da Videira com seu vinho excelente, o Espinheiro nada produzia além de sombra. Era pegar ou largar. Pegaram. E anos depois o Espinheiro astuto cuspiu fogo sobre a ingênua floresta.
Esta seria uma parábola sem maiores implicações se não ilustrasse de maneira tão nítida a realidade evangélica atual. A igreja brasileira parece sim – por falta de profundidade teológica ou por escolha deliberada, não sei ao certo se sei – aceitar sem maiores dificuldades as sombras prósperas e acalentadoras do evangelho da prosperidade em detrimento do azeite, do figo e do vinho (refiro-me à ortodoxia e ortopraxia bíblica cristocêntrica). A situação está crítica – de propósito não quis dizer “caótica” – e não vejo saída fácil para essa crise. Vejo, contudo, uma alternativa possível e viável para ela. Não creio que precisamos trilhar caminhos tão radicais como alguns têm feito ao ponto de promover outro Deus e outra Igreja. Acredito, porém, que precisamos reagir. Jesus denunciou, protestou e atacou com veemência a religião farisaica de seus dias. Os apóstolos também não deixaram por menos: rechaçaram toda doutrina contrária ao evangelho que haviam recebido de Cristo.
Longe de sequer sugerir ataques pessoais ou confrontos físicos e violentos, apelo para um reposicionamento da teologia bíblica. Para ser igreja de Cristo não basta dizer que a Bíblia é a Palavra de Deus. A questão é como se interpreta essa Palavra. Assim, meu clamor é para que pastores e igrejas (oliveiras, figueiras e videiras) almejem ser ouvidos. Que aspirem com ardor o retorno do verdadeiro evangelho dos evangélicos. Só assim dispensar-se-á a necessidade de tantos adjetivos e explicações no que tange à nossa identificação.
Há, nas igrejas brasileiras, uma ênfase irresponsável nas rosas e seus perfumes. Não creio ser justo manter auditórios lotados na ignorância: toda roseira também tem seus espinhos. A verdadeira mensagem da cruz não suprime a espinha dorsal das Escrituras em detrimento de resultados quantitativos. A perspectiva cristã foi de certo modo invertida: querem trazer o céu para a terra. Que se registre o meu protesto: “pregadores de rosa deveriam pregar os espinhos também”.
Assim sendo, conclamo líderes e cristãos centrados e balizados pelo Evangelho da verdade que busquem seu lugar ao sol; que conquistem seu espaço nas rádios e televisões; que escrevam, que falem que tornem (re)conhecidas a interpretação bíblica consciente, coerente e equilibrada; que não comprem livros contaminados com tais doutrinas, que não assistam tais oradores. Quantas saudades tenho de ouvir sermões gerados a partir do binômio de Calvino “orare et labutare”, isto é, sermões gerados com oração e trabalho; unção e pesquisa; iluminação e interpretação hermenêutica responsável.
Se isto não ocorrer se tornará cada vez mais real o que certo pregador afirmou: “quando os bons não governam, os maus tomam o poder”.
Tenho tido dificuldades para escolher uma única palavra que defina hoje o meio evangélico brasileiro. Concordo com Augustus Nicodemus quando ele afirma que “é mau sinal quando para nos identificarmos precisamos lançar mão de três ou quatro atributos”. É evidente que a crise teológica evangélica no Brasil é gigante. Cada vez mais pessoas procuram igrejas para se sentirem bem, para buscarem solução imediata para os seus problemas, sem sequer refletir nas questões mais profundas de sua existência e eternidade. Isto, de se aglomerar multidões sem a centralidade da cruz, não é vantagem alguma. Ao contrário, estamos diante da necessidade premente de que algo seja feito.
O quase-conformismo das igrejas históricas e pentecostais face ao liberalismo teológico e barateamento hermenêutico dos neopentecostais precisa ser repensado com urgência. Toda leniência será castigada. Para quem não está familiarizado com o termo, “neopentencostais” são aqueles que aderem à teologia da prosperidade e à batalha espiritual, que dão autoridade às novas revelações e optam por um modelo eclesiástico episcopal centrado nos auto-intitulados bispos e apóstolos.
Penso que estamos agindo como as árvores da parábola de Jotão. Talvez o vocábulo “resignação” capte bem o espírito das árvores sem rei. Recorde comigo a história contada no livro dos Juízes.
Era uma vez – e agora de novo – um reino cujos cidadãos eram árvores. Certo dia eles decidiram ungir um rei para si. Logo pensaram na Oliveira, árvore frondosa, saudável e muito respeitada. Feito, porém, o convite, a Oliveira disse não. Ocorreu-lhes então que a Figueira seria uma excelente alternativa. Porém ela também declinou do convite. Optaram então pela Videira. Com sua capacidade de produzir o mosto tão apreciado pelos homens talvez aceitasse a coroa. Oficializado o convite, a Videira tampouco aceitou a nobre função. Aflitas e impotentes as árvores não tinham mais escolhas. Foram até o Espinheiro. Convidado para a função real, ele viu ali sua galinha dos ovos de ouro. Seu reinado seria muito mais do que mera função administrativa. Rapidamente aceitou o cetro. É verdade que ele não tinha muito que oferecer. Ao contrário da Oliveira que produzia o requisitado azeite, da Figueira que com seus frutos saborosos e doces assanhava os paladares, e da Videira com seu vinho excelente, o Espinheiro nada produzia além de sombra. Era pegar ou largar. Pegaram. E anos depois o Espinheiro astuto cuspiu fogo sobre a ingênua floresta.
Esta seria uma parábola sem maiores implicações se não ilustrasse de maneira tão nítida a realidade evangélica atual. A igreja brasileira parece sim – por falta de profundidade teológica ou por escolha deliberada, não sei ao certo se sei – aceitar sem maiores dificuldades as sombras prósperas e acalentadoras do evangelho da prosperidade em detrimento do azeite, do figo e do vinho (refiro-me à ortodoxia e ortopraxia bíblica cristocêntrica). A situação está crítica – de propósito não quis dizer “caótica” – e não vejo saída fácil para essa crise. Vejo, contudo, uma alternativa possível e viável para ela. Não creio que precisamos trilhar caminhos tão radicais como alguns têm feito ao ponto de promover outro Deus e outra Igreja. Acredito, porém, que precisamos reagir. Jesus denunciou, protestou e atacou com veemência a religião farisaica de seus dias. Os apóstolos também não deixaram por menos: rechaçaram toda doutrina contrária ao evangelho que haviam recebido de Cristo.
Longe de sequer sugerir ataques pessoais ou confrontos físicos e violentos, apelo para um reposicionamento da teologia bíblica. Para ser igreja de Cristo não basta dizer que a Bíblia é a Palavra de Deus. A questão é como se interpreta essa Palavra. Assim, meu clamor é para que pastores e igrejas (oliveiras, figueiras e videiras) almejem ser ouvidos. Que aspirem com ardor o retorno do verdadeiro evangelho dos evangélicos. Só assim dispensar-se-á a necessidade de tantos adjetivos e explicações no que tange à nossa identificação.
Há, nas igrejas brasileiras, uma ênfase irresponsável nas rosas e seus perfumes. Não creio ser justo manter auditórios lotados na ignorância: toda roseira também tem seus espinhos. A verdadeira mensagem da cruz não suprime a espinha dorsal das Escrituras em detrimento de resultados quantitativos. A perspectiva cristã foi de certo modo invertida: querem trazer o céu para a terra. Que se registre o meu protesto: “pregadores de rosa deveriam pregar os espinhos também”.
Assim sendo, conclamo líderes e cristãos centrados e balizados pelo Evangelho da verdade que busquem seu lugar ao sol; que conquistem seu espaço nas rádios e televisões; que escrevam, que falem que tornem (re)conhecidas a interpretação bíblica consciente, coerente e equilibrada; que não comprem livros contaminados com tais doutrinas, que não assistam tais oradores. Quantas saudades tenho de ouvir sermões gerados a partir do binômio de Calvino “orare et labutare”, isto é, sermões gerados com oração e trabalho; unção e pesquisa; iluminação e interpretação hermenêutica responsável.
Se isto não ocorrer se tornará cada vez mais real o que certo pregador afirmou: “quando os bons não governam, os maus tomam o poder”.
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