Os velhos também amam.


Amor de mocidade é bonito, mas não é de se espantar. Jovem tem mesmo é de se apaixonar. Romeu e Julieta é aquilo que todo mundo considera normal. Mas o amor na velhice é um espanto, pois nos revela que o coração não envelhece jamais. Pode até morrer, mas morre jovem. "O amor retribuído sempre rejuvenesce", dizia Eliot no vigor da sua paixão, aos 70 anos de idade...

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Sei muito bem que é estranho. A Simone de Bouvoir, no seu livro sobre a velhice, diz que há uma coisa que não se perdoa nos velhos: que eles possam amar com o mesmo amor dos moços. Aos velhos está reservado outro tipo de amor, amor pelos netos, sorrindo sempre paciente, olhar resignado, espera de morte, passeios lentos pelos parques, horas jogando paciência, cochilos em meio às conversas. Mas quando o velho ressuscita, e no seu corpo surgem de novo as potências adormecidas do amor, ah! os filhos se horrorizam. "- ficou caduco..."

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O amor tem este poder mágico de fazer o tempo correr ao contrário. O que envelhece não é o tempo. É a rotina, o enfado, a incapacidade de se comover ante o sorriso de uma mulher ou de um homem. Mas será incapacidade mesmo? Ou não será uma outra coisa: que a sociedade inteira ensina aos seus velhos que o tempo do amor já passou, que o preço de serem amados por seus filhos e netos é a renúncia aos seus sonhos de amor.


(Rubem Alves em "Tempus Fugit" - E os velhos se apaixonarão de novo - pág. 105,106,108 - Ed. Paulus)

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