Quando chega a hora da morte.


Quando chega a hora da morte, chega a hora de se contar estórias. É assim que a imagem amada continua viva dentro de nós. E, quer saibamos disso ou não, o fato é que nós somos as pessoas que moram dentro de nós. Somos as estórias que contamos. De minha mãe posso dizer o que disse Vallejo: "O seu cadáver estava cheio de mundos". Muitos deles e nunca ditos, guardados como um segredo. A hora da saudade é quando nos impomos silêncio e aí, talvez possamos ouvir aquilo que nunca ouvimos, enquanto os mortos estavam vivos. A morte não deixa de ser a hora da verdade. E, com isso, nos tornamos um pouco mais verdadeiros e pensamos nos mundos que moram dentro em nós, e que só se tornarão visíveis depois que partirmos. Então os vivos ouvirão melhor o nosso silêncio.


(Rubem Alves em "Tempus Fugit" - Depois do enterro... - pág. 92-93 - Ed. Paulus)

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