Um colégio inesquecível.


Weslei Odair Orlandi



Dias atrás estive viajando e fui há um grande, singelo, mas sofisticado colégio. Pela aparência devia ter sido construído há alguns séculos, embora não parecesse velho. No pátio, milhares de crianças, adolescentes, jovens, homens e mulheres de meia-idade e também velhos caminhavam entusiasmados. Havia entre todos uma euforia contagiante. Também quis estar entre eles.
Aproximei-me de um senhor sorridente, falante e muito simpático. Ele estava explicando a uma criança o significado de algumas palavras que na aula do dia anterior não haviam ficado muito claras. Não parecia estar cansado nem mesmo com pressa. Vi nele, ao contrário do que estou acostumado a ver, uma sincera devoção e desejo de que o menino, de verdade, entendesse o que não ficara esclarecido. Depois de alguns segundos ouvindo-o, interrompi-o e perguntei-lhe que escola era aquela e o que eles estavam cursando. Com um gesto educado e envolvente, ele prontamente se dispôs a me explicar que escola era aquela, convidando-me para caminhar com ele. O que vi e ouvi foi simplesmente inesquecível.
A princípio ele me informou que aquela não era uma escola convencional como as que já conhecia, mas sim um centro de convivência e educação com propósitos bem definidos. Eles estavam ali todos os dias e apesar das diferenças de idade e nível de conhecimento, todos utilizavam o mesmo Livro para aprender. Na verdade, ninguém julgava saber mais do que o outro. A escola funcionava a partir de princípios que podiam ser facilmente colocados em prática sempre que a aula acabava. Algum dos alunos, me informou o simpático ancião, eram às vezes teimosos e insistiam em não levar a sério o que ouviam. Ainda assim, no decorrer dos dias, muitos deles acabavam por entender a grandeza do que lhes fora ensinado e passavam a também praticar as lições das aulas anteriores.
Eu estava boquiaberto. A estrutura física do colégio ia ficando cada vez mais insignificante na medida em que era informado sobre os corpos docente e discente da escola, sobre a perseverança, paciência e brandura do Diretor principal e também do Proprietário da escola que era Pai do Diretor. Quis saber o que aprendiam e então ele me explicou. A princípio não compreendi muito bem, mas com a ajuda de um dos Professores, que se aproximou de nós – mais tarde eu soube que aquele Professor também era um dos Donos da escola – na medida em que o ancião me falava fui tendo uma ideia cada vez mais aclarada do que ouvia. Foi sublime. Era tudo tão simples, tão fácil, tão libertador, tão verdadeiro... Pensei e lamentei silenciosamente não ter conhecido antes aquela escola. Ali estava tudo o que eu sempre quis.
Soube que entre os alunos do colégio havia concórdia, paz, genuína preocupação com o bem estar uns dos outros, companheirismo, igualdade e, principalmente, amor. Nada era falso. Às vezes tinham problemas entre eles, nada que não pudesse ser rapidamente resolvido.
Quis conhecer o alfabeto que estudavam e descobri que as letras eram as mesmas que eu já utilizava. A diferença estava no modo como eram ensinadas. Não havia no colégio a preocupação de que os alunos aprendessem a técnica da escrita, mas sim o poder dos princípios que fluíam de cada letra. Como tudo ali era poderosamente contagiante não me esqueci até agora dos princípios que eram ensinados a partir de cada uma delas. Penso que todos deveriam conhecê-los. Assim o mundo seria inevitavelmente melhor. Pacientemente aquele senhor sorridente e seu Professor me levaram a uma sala de aula e me mostraram o Livro e os princípios contidos nele. Eram mais ou menos assim:
A – Ame a Deus sobre todas as coisas; B – Busque ao Senhor enquanto se pode achar; C – Clama a mim e responder-te-ei (aqui, palavras do próprio Diretor); D – Dos teus pecados já não me lembro mais (estas são palavras do Pai do Diretor); E – Entrega o teu caminho ao Senhor; F – Faça tudo sem murmuração; G – Guarda o teu pé quando entrares na Casa do Senhor; H – Habitem estas palavras abundantemente em seu coração; I – Inclina os teus ouvidos para ouvir as palavras do Livro; J – Jamais desista; L – Lança o teu cuidado sobre o Senhor; M – Maneja bem a palavra da verdade; N – Não te desvies nem para a direita nem para a esquerda; O – Olhe para mim e seja salvo (novamente, palavras do Diretor); P – Pedi e dar-se-vos-á; Q – Qualquer que pede, recebe; R - Resista ao diabo e ele fugirá de você; S – Santifique-se na verdade; T – Transforme-se pela renovação do seu entendimento; U – Unge os seus olhos com discernimento; V – Vigie e ore sempre; Z – zele por sua integridade física, moral e espiritual.
Meu deslumbramento aumentava a cada segundo. Era como se aqueles princípios possuíssem vida própria. Pareciam saltar para dentro de mim na medida em que eram lidos e explicados. Não pude me conter. Pedi para ser matriculado naquela escola e quando perguntei pelos custos que teria soube que Alguém já pagara os estudos de todos; não custaria nada a mim – depois, soube que na verdade o preço das mensalidades e todos os demais gastos haviam sido pagos pelo Diretor Principal, o filho do Dono da escola.
O passeio pelo colégio ainda não acabara. Na verdade estava apenas começando, mas então, ao longe ouvi um som de campainha; era o despertador à cabeceira da minha cama. Acordei e vi que tudo não passou de um sonho. Um lindo e inesquecível sonho.
Mais tarde, já acordado e de volta à vida comum pensei que aquela Escola, seus Dirigentes, aquele senhor sorridente e todos os outros alunos bem podiam ser a Igreja de Cristo aqui na terra. Foi então que decidi lutar, não por fama, saúde e prosperidade, mas por uma comunidade de fé alfabetizada na Palavra de Deus de Gênesis a Apocalipse.

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