Ações que se eternizam


Weslei Odair Orlandi




Viver é uma dádiva divina. Em Deus existimos, vivemos e nos movemos. Por isso indagar se vale a pena viver é claramente descabido, mas e quanto ao que estamos vivendo? Vale a pena? Penso que algumas das nossas ações do dia a dia estão mesmo destinadas a não se tornarem perenes. Ao contrário disso, serão eternamente efêmeras (se é que esse paradoxo faz algum sentido). Por exemplo, daqui a um século que diferença fará se fui calvo ou se ostentei uma bela cabeleira? Que diferença fará se fui considerado pelos padrões de beleza bonito ou feio? Que diferença fará se andei a pé ou se usufrui dos confortos de uma Ferrari? Que diferença fará se paguei aluguel ou fui dono de um castelo? Creio que não fará diferença alguma! Se fui rico ou pobre, branco, negro ou amarelo, letrado ou iletrado, se conheci lugares pitorescos ou se nunca cruzei as fronteiras do meu estado... Nada disso importará mais. Dentro de alguns anos todas essas coisas haver-se-ão destruídas por si mesmas.
Viver uma vida que vale a pena não é deleitar-se em efemeridades, mas saber dominar a arte de se eternizar dia após outro. Precisamos descobrir a chave para a realização de ações que se imortalizam.
Daqui a cem anos fará (e como!) diferença se eu fui um bom pai, um bom esposo, um bom pastor, um bom cidadão, um bom e fiel servo de Cristo. No futuro, quando chegar a vez dos meus descendentes escreverem suas histórias eu quero fazer parte delas. Quero ser lembrado como um bisavô ou tataravô que viveu dignamente. Afinal, eu sou a continuidade do que meus antepassados foram. Tudo que faço hoje é em última análise a soma de muitas vidas que foram antes de mim. Quando prego, meus pais pregam comigo. Quando tomo decisões, meus avós estão presentes. Não eles, claro, mas seus exemplos e ensinamentos. Dessa forma, acredito que eternizar momentos na vida de outros não só é possível como também é algo que deva ser levado a sério.
Existem pessoas cujas ações nunca serão lembradas – ou se o forem, apenas como infortúnios. Verdade seja dita: um futuro bem sucedido – me refiro aos meus netos, bisnetos, tataranetos e a mim mesmo daqui há um bilhão de anos – será sempre o resultado de um presente – eu e minhas ações – bem decidido.
Você pode não pensar assim, mas antes de me achar um escritor sem noção pense um pouco sobre Zaqueu – sim, ele mesmo, o homem que subiu na árvore para ver Jesus.
Zaqueu tornou-se um herói dos Evangelhos a partir do dia em que foi salvo. Mas ele não foi apenas salvo. Ele tornou-se também referência para o mundo. A fatia que conhecemos da vida desse homem que Lucas registrou em seu relato a Teófilo não é tão espetacular quanto o que restou dela após sua morte. A magnitude da conversão do publicano rico de Jericó está nas engrenagens que ele pôs para funcionar e não nas poucas linhas que Lucas reservou para sua biografia. Por causa de sua decisão inusitada de subir numa árvore para ver Jesus, milhares de pessoas irão entrar no céu um dia. Uma ação que se eternizou. É pena que nos faltem dados estatísticos que apontem quantas pessoas já vieram a Cristo por intermédio de pregações feitas sobre esse homem.
Preciso ser claro com você: precisamos sim nos preocupar com as nossas atitudes e decisões hoje, pois no futuro elas ainda estarão ressoando. Perguntas como “o que estou pondo em movimento hoje?” e, “o que meus atos de agora produzirão de benefício para mim e meus descendentes no futuro e na eternidade?” precisam ser feitas sempre.
Acredite. O seu futuro depende dos valores que forem encarnados hoje. Se a sua eternidade se chamará céu ou inferno, depende. Que ações você tem eternizado? O futuro espiritual de todos depende do quanto Cristo tornou-se permanente neles. Esta é indubitavelmente a razão porque Paulo utilizou-se tantas vezes da expressão “em Cristo”.
Se algum dia alguém se propuser a resumir minha história de vida, espero que seja mais ou menos isso o que terão para escrever: “Ele foi um homem que por causa de suas imperfeições quase pôs tudo a perder, até que um dia alguém o instruiu a ler João 6:27 – ‘não trabalhem pela comida que se estraga, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do Homem lhes dará...´- e assim, as linhas tortas foram suavizadas. Hoje, ele não está mais entre nós, mas seus exemplos sim. Ele já não pode ser visto na terra; repousa agora nos braços do Pai Eterno”.
Esta sim, será uma história digna de ser contada.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Comer peixe não basta.

GUIADOS PELA NUVEM

Sermão C.S. Lewis - "O peso de glória".