O desafio de tornar-se semelhante a Jesus.


Weslei Odair Orlandi



“Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8:29). Há nos evangelhos pelo menos duas outras grandes afirmações de Jesus que fazem coro a essas palavras de Paulo escritas aos Romanos (e também muitas outras em toda a Bíblia). São elas:
Lucas 6:40 – “O discípulo não é superior a seu mestre, mas todo o que for perfeito será como o seu mestre”.
João 14:12 – “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço e as fará maiores do que estas, porque eu vou para o meu pai”.
Porém é difícil imaginarmos como isso pode acontecer. Temos a tendência de nos desautorizarmos à prática dessa “aventura” enfatizando quem Ele é também a distância que há entre nós e Sua pessoa. Como posso tornar-me semelhante a Jesus? – indagamos esquivos – Ele é Todo-poderoso, Santo e divino; eu sou pó da terra, pecador e homem.
Esse é o engano que me proponho a desfazer neste artigo. Podemos sim – e vamos – nos tornar semelhantes a Cristo por uma razão simples: ele nunca nos convidou a sermos iguais a Ele a partir do seu estado original de glória. Sua chamada é para que o nivelamento se dê a partir de sua encarnação. Este é o Cristo dos Evangelhos, o paradigma perfeito que o Pai nos deu.
O maior e mais nobre argumento em favor da nossa mudança na direção de sua imagem está não no seu retorno ao céu, mas na sua descida à Terra. Cristo negou-se em nosso favor, para nos dar a possibilidade de nos negarmos por Ele. “Sendo (ele) em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2:5-8 – acréscimo meu). Seu convite para fazermos as mesmas obras não aconteceu tendo em vista as questões verticais da sua existência, mas as horizontais. Foi quando Ele esteve de igual para igual que o desafio para nossa metamorfose foi lançado.
Tudo que Ele fez nós podemos fazer; tudo que Ele foi nós podemos ser; tudo que Ele superou nós podemos superar; tudo que Ele suportou nós podemos suportar uma vez que todas as suas obras se deram na sua humanidade.
Tornaremos-nos discípulos seus, agiremos como Ele agiu, viveremos como Ele viveu porque em nenhum de seus atos ele se valeu da sua condição original.
Como homem (e não como Deus) Hb 2:10 diz que “ele foi consagrado pelas aflições”, “em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb 4:15), “ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu” (Hb 5:8). Tendo em mente a encarnação e não a glorificação 1 Pedro 5:21-23 diz: “porque para isto sois chamados, pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas, o qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano, o qual quando o injuriavam, não injuriava e, quando padecia, não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente”.
A mensagem bíblica de que nós podemos nos fazer semelhante a Cristo é, portanto, totalmente praticável. Jesus pode ser imitado, pode ser o nosso modelo, o parâmetro da nossa fé, pois como nós teve fome, medo, sentiu tristeza, emocionou-se, sentiu cansaço, dores e fadiga. Sua humanidade foi assumida com tal intensidade que no Getsêmani precisou da companhia de um anjo para confortá-lo; no Calvário ao sentir-se desamparado até mesmo pelo Pai a encarnação atingiu seu ponto mais elevado.
Ser semelhante a Cristo é possível, pois não significa desumanizar-se, mas sim tornar-se mais humano, mais solidário, compreensível, amável e misericordioso. Não significa libertar-se totalmente dos infortúnios dessa vida, mas sim acreditar que os valores, os princípios e as virtudes do Evangelho bastam para que enfrentemos a vida com todas as suas vicissitudes. Não significa deixar a terra descolando-se da realidade, mas ser devolvido a ela na plenitude do Espírito e no poder da Palavra.

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