Meu voto vai para...

Weslei Odair Orlandi

Sou ministro, mas não político. Meu ministério é outro. Minha vocação pastoral tem mão única. Embora respeite meus colegas que optam por viver uma vida dupla – refiro-me ao ministério e à política – não penso jamais em enveredar-me por esse universo às vezes sombrio demais para não causar medo. Ainda assim, penso em política. Honrosamente também sou brasileiro, eleitor e parte dessa história.

Apesar das sucessivas desilusões com a política e seus políticos, nossa fé é invencível; não desistimos nunca. Basta sabermos que é ano de eleições municipais, estaduais ou para presidente, para que voltemos a sonhar novamente. Mesmo que boa parte dos discursos não passe de retórica meticulosamente arquitetada e que não apresente nada de novo, reunimos forças para continuar acreditando e lá vamos nós em mais uma aposta.

Para os políticos (ainda acredito em exceções) parece que somos mesmo massa de modelar; bastam alguns abraços seguidos de impostação vocal carismática para que as metas eleitorais sejam atingidas. Para os eleitores (que somos nós, a turma na outra ponta da corda) resta sonhar, votar, esperar, deixar correr e aguardar novas eleições. É assim que, tristemente tem sido, em grande parte, até agora. Ao que parece, gostamos mesmo é de pizza!

Creio ter chegado a hora de repensarmos esses nossos gostos pouco saudáveis. Nesse contexto, a Igreja, que nem sempre quer se envolver com as “coisas desse mundo”, tem falhado. Argumentar, pensar, orientar e viabilizar conhecimento político aos fiéis para podermos então mudar não é só uma questão de consciência; é também um dever cívico e cristão.

No livro “Diálogos criativos”, Frei Betto faz uma observação no mínimo exata (talvez franca demais para alguns) sobre nossa falta de bate-papos sobre o assunto. Segundo ele “política é como sexo: quanto menos se fala em casa e na escola, mais bobagem se faz na rua”. Triste. Medonhamente lastimoso. Não dá para fechar os olhos (o que, aliás, fazemos muito) e fingir que isso não é verdade. Ou admitimos nosso pecado de omissão e de sucessivas “bobagens” e tomamos como obrigação a tarefa de ensinar o povo ou então, paciência. Nesse caso restará resignar-se e deixar que os maus continuem a nos governar. Afinal, quem se importa?

Entendam-me. Meu objetivo básico aqui é simples: esclarecer que não podemos nos limitar a orar pelos que estão em eminência (o que também não fazemos com a assiduidade necessária) deixando para Deus o que é dever nosso: o voto com seriedade. Enquanto não nos libertarmos das paixões arrebatadoras por indivíduos pouco qualificados que movem a massa votante no Brasil; enquanto não deixarmos de nos importar com popularidade, abraços, carismas e sorrisos e, enquanto não passarmos a votar movidos pela razão e não pela emoção, seremos sempre uma nação frágil e ridiculamente manipulável. Não será, obviamente, de uma hora para outra que isso vai mudar. Não. Isso leva tempo, muito tempo. Já temos lastro histórico suficiente para sabermos que as mudanças são implacavelmente lentas. Não acredito, porém, que chegaremos a um nível mínimo de maturidade política se não dermos em algum dia (por que não dia três?) o primeiro passo.

Precisamos nos lembrar sempre (e também nos convencermos de tal fato) que sim, por detrás dos rótulos da propaganda há uma máquina poderosa e pouco sensível chamada marketing e que ela não está de todo preocupada com os conteúdos programáticos dos candidatos, mas sim em fazer uma boa campanha rumo à vitória não só dos postulantes, mas também dela própria, o que lhe garantirá fama, serviços futuros e respeito no mercado. Essa não é uma ação isolada, mas generalizada, teimosamente presente e publicamente (às vezes nem tão publicamente assim) assumida.

A nós cumpre saber que os sonhos não foram patenteados por Martin Luther King. Nesse ano também devemos sonhar com algo mais para o nosso país. O meu sonho é o de que no fim das contas tenhamos podido ao menos nos libertar das garras sutis dos marqueteiros. Tomara que a máxima dos publicitários segundo a qual a melhor propaganda é sentença de morte para o mau produto funcione mesmo.

Não me iludo com um futuro sem males. Não ignoro nossas limitações e muito menos a escatologia bíblica. Não acredito em descontaminação absoluta. Não penso que nosso Brasil possa chegar ao ideal paradisíaco sem serpentes que falam. Acredito, porém, que há um mínimo necessário – isso que chamamos de consciência política - que ainda não estamos exercendo e é por ele que luto.

Insisto em dizer que não sou político. Não peço voto e por enquanto pretendo fazer valer o direito de não precisar me posicionar publicamente. Entretanto, peço aos meus irmãos e amigos eleitores que nesse ano façamos escolhas menos humilhantes. Não admitamos outro caminho senão o da elevação moral. Ou isso, ou nossa dignidade já não será mais tão digna assim.

Que no dia 03 de outubro mandemos um recado claro: aprendemos votar. Eu, mesmo sem a fatídica exibição política obrigatória no rádio e na televisão, já fiz as minhas escolhas. Ao menos já sei em quem não vou votar.

Nesse ano, não será tão simples dizer “meu voto vai para...”. Por isso, um último apelo se faz necessário antes do ponto final: Senhores candidatos, parem de querer nos enganar! (.)

Comentários

Weslei Odair Orlandi disse…
Deus a abençoe minha irmã.
Juntos seremos cada vez mais fortes.

Postagens mais visitadas deste blog

Comer peixe não basta.

GUIADOS PELA NUVEM

Sermão C.S. Lewis - "O peso de glória".