Sobre a família, peixes e pinguins.

Weslei Odair Orlandi

Quando começo a escrever, deixo a criação do título sempre por último. É assim que fazem os profissionais da escrita; logo, eu que não estou entre eles, preciso ao menos ser um bom aluno. Dessa vez, entretanto, estou fazendo o caminho oposto. Começando pelo título faço-o propositalmente, claro. Mas não pense que é apenas para despertar curiosidade. Na verdade há uma relação íntima entre família, peixes e pingüins. Dessa conclusão é que estou tentando fazer nascer tudo mais. Em primeiro lugar, justiça seja feita, não são apenas eles que possuem essa correlação íntima. Também há os camelos, as aves, os répteis em geral, as flores...
Eu explico. Todos os seres vivos necessitam, para existir, de um ambiente próprio. Sem ele não há vida. Os pingüins, para viverem, precisam do frio; os peixes, da água (mas não qualquer água; de uma que esteja limpa, oxigenada); os camelos, do calor; as aves, do espaço; os répteis, do chão; as flores, da primavera. E assim vai...
Com a família não é diferente. Se a desejamos saudável, forte e indestrutível; se a idealizamos protegida dos males avassaladores e corruptores do seio familiar; se traçamos linhas invisíveis de bem estar para nossos cônjuges, filhos e demais membros, então é mister que desenvolvamos um ambiente favorável, sem lixos, toxinas, pragas, ressentimentos, intolerâncias, rancores e demais resíduos maléficos.
Como pretendo não ajudar meus leitores com idiossincrasias e palavras sem sentido, limito-me a repetir Paulo, o apóstolo: “o amor não seja fingido”, Romanos 12.9. A intenção das palavras é clara em se tratando das questões familiares; ela precisa de um ambiente próprio, saudável, durável e incontaminado: o amor. E por isso mesmo não pode ser fingido.
O amor é sentimento que requer corpos que o abriguem e na família ele deve encontrar seu melhor, maior e mais sublime espaço. Na gramática “amor” é um substantivo abstrato, etéreo. Na família ele encontra sua concretude e assim não basta afirmar sua existência, pois existir é real, tangível, invisível às vezes, mas perceptível sempre.
Não é maravilhoso isso? Um sentimento como esse é indubitavelmente fantástico. Quando conversamos com pessoas diferentes sobre o amor – sejam elas cientistas, donas-de-casa, sapateiros, operários, velhos, jovens, crianças... – todos têm nele seu objeto de desejo.
Mas, e na família, onde ele está? Preciso ser honesto: não está. Ao menos não em muitos lares. E, por favor, não pensem que estou inventando coisas... Não... Sei que não posso generalizar, e nem intenciono fazê-lo, porém, não dá para não dizer que em muitos nichos familiares ele é tão somente um fingimento. O casal vai mal, mas fingem que vão bem. Fingem para os amigos, para os parentes mais próximos – e para os mais distantes, mais ainda – fingem para os filhos, e fingem até para eles mesmos.
Muitos lares se digladiam e fingem que se perdoam, que esquecem, que voltam a confiar, que está tudo bem, que há respeito, que amam... Continuam sob o mesmo teto, dormem nos mesmos quartos, dividem o guarda-roupa, o banheiro, o sofá, o computador... Continuam juntos, saem juntos... Mas, que nada, é tudo embromação. No fundo estão mesmo é representando.
Triste, pois nenhum “faz de conta” dura mais do que um período curto. No fim das contas o que sobra são as frustrações, os descaminhos, as separações, as feridas e a vergonha.
Comecei esse artigo falando de ambientes e preciso encerrar voltando a eles. Se algo parecido está acontecendo com você, pare tudo. Pare de fingir. Pare de protelar. Pare... Mil vezes, pare! Admita que está tudo errado. Ponha seu coração no divã e ouça-o. Aproveite e ouça também o que os outros têm a dizer. Pode ser que você seja o culpado, e assim vai poder melhorar. Não prefira como muitos, a morte. Jogue fora seu orgulho, não seu casamento, seus filhos, sua família. Experimente perguntar o que está acontecendo. É curioso como essa pergunta tão simples pode revelar verdades tão densas. Identifique a gênese de tudo. Se for o caso, peça perdão. Se o culpado for o outro, perdoe. Não aceite para sua família menos do que amor não fingido.
Vou parar. Mas devo relembrar a máxima bíblica: o amor é paciente, bom, não se enciúma, não provoca explosões, não alimenta mágoas, se conduz de maneira correta, tudo sofre, tudo crê, tudo espera.
O verdadeiro amor – oxigênio puro, cálido e inesgotável – jamais acaba. E aqui vale explicar: nem com os que o respiram, nem com ele mesmo!

Comentários

Prof. Cleiton disse…
Parabéns pastor! Infelizmente esse artigo reflete mesmo o que acontece em muitas famílias na nossa sociedade e também em nossas igrejas. Voltemos ao verdadeiro amor... ao amor Ágape! (não é merchan!rs)
Pastor Dimas.... Olá Pastor Weslei parabéns por esse artigo tão importante e oportuno para nós, oxalá que muitos leitores possam ler e mudar a realidade de suas vidas, que muitas é só farça. Abraço
Unknown disse…
Muito bom,pastor.Artigos assim vale a pena le-los.
Que Deus continue a abençoa-lo com toda sua linda família.
Paz seja com todos.
Cleusa

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