Depois de Eloá quem será a próxima vítima?


Weslei Odair Orlandi

Em outubro de 2008 o país parou para ver boquiaberto a ascensão da estupidez humana. De lá para cá outras e piores barbáries já se somaram àquela. Refiro-me à morte da jovem Eloá. Infelizmente, casos como o dela, seqüestrada e assassinada pelo ex-namorado em Santo André – SP, não são mais pontuais. Com a chegada do século XXI os jovens parecem ter perdido seus referenciais e agora passam a atirar em todas as direções. Nos Estados Unidos a invasão de universidades seguida de mortes e suicídios já não é mais um acontecimento isolado; no Brasil também temos experimentado a nossa dor particular como foi o caso do Massacre do Realengo onde Wellington Menezes, de 23 anos, entrou no colégio onde estudara e saiu atirando a esmo matando doze inocentes alunos.
         Com o julgamento de Lindemberg Alves, o ex-namorado e malfeitor de Eloá, em curso nesta semana a pergunta que fica no ar é: “quando isso vai acontecer de novo?”. “Quem será a próxima Eloá?”.
         Refletir sobre os motivos tresloucados como os de Lindemberg não é tarefa fácil. Nem mesmo psicólogos e psiquiatras parecem estar certos do que está por detrás de tudo. Convocados pela imprensa para dar explicações deixam apenas uma certeza: os jovens estão desnorteados e precisam urgentemente resgatar valores que foram descartados como obsoletos. Um deles afirmou em entrevista ao Jornal Hoje: “Lindemberg não é uma vítima da sociedade, mas um fruto dela”. 
         Todos nós sentimos que alguma coisa de muito grave está acontecendo com as bases morais da nossa cultura. Sob olhares incrédulos os fundamentos estão sendo transtornados sem que nada ou quase nada seja feito. Os números são alarmantes. A gravidez entre adolescentes, o suicídio entre jovens, a violência, o uso de armas e drogas nas escolas, a promiscuidade sexual, o desrespeito e a indiferença não param de bater novos recordes a cada ano. Seria este o indício da ineficiência da sociedade e suas leis?
         Creio que precisamos enxergar mais além. Olhar para além dos sintomas e enfrentar as causas fundamentais, as raízes do problema. A juventude de hoje está sendo criada – consciente ou inconscientemente – e preparada para o niilismo (doutrina segundo a qual nada existe de absoluto). O credo pós-moderno que nossos jovens seguem tem como máxima filosófica o “se gostar, faça”.  Some-se a isso a mensagem subliminar de que podem tudo. Esse ambiente educacional que rejeita a noção da verdade e que desloca da realidade os nossos filhos iludindo-os com a idéia de que são superiores é, contudo, altamente erosivo.
          Muitos de nossos filhos simplesmente não compreendem ou aceitam o fato de que existem verdades absolutas e que devem ser regidos por elas. Josh Macdowell define verdade absoluta como sendo “aquelas que são verdade para todas as pessoas, em todas as épocas, e em todos os lugares”. A sociedade, porém, diz que a verdade é aquilo em que eu acredito, mesmo que eu seja o único a crer nela. Essa é a gênese da estupidez das escolhas que fazem e das atitudes que adotam.
         Criar nossos filhos em meio a uma “geração corrompida e perversa” (Fp 2:15) não é tarefa fácil. Mas há esperança! Não há caminhos fáceis, mas há esperança. No fundo, no fundo, o que nossos filhos querem é sentirem-se amados e seguros com aquilo que oferecemos a eles. A geração shopping center pode até não assumir publicamente a necessidade que tem de uma moral forte, constante e objetiva, mas quando milhares deles saem à rua para chorar a perda de uma amiga querida o que estão dizendo é que a liberdade excessiva que lhes foi outorgada está cada vez mais nauseante; que eles precisam mesmo é conhecer o certo e o errado absolutos.
         C.S. Lewis escreveu em seu livro Cristianismo puro e simples:
         “Sempre que encontrar alguém que diga não acreditar num verdadeiro certo e errado, verá essa pessoa contradizer-se dentro em pouco. Ele talvez quebre uma promessa que fez a você, mas, se for você quem quebrar a promessa feita a ele, com certeza ele se queixará, “Não é justo”, na mesma hora. Ao que parece, portanto, devemos acreditar num verdadeiro certo e errado. As pessoas podem às vezes enganar-se quanto a isso, assim como alguns não sabem somar corretamente; mas não se trata de simples gosto e opinião, como também não acontece com a tabuada”.
         Precisamos desobstruir os poços entulhados pelo lixo que a literatura, a televisão e as conversas de fim de tarde têm lançado diariamente neles. O problema dos nossos jovens não está no fato de que gostam de sexo, de diversão e de liberdade. Estes impulsos não são rivais da verdade absoluta. A questão central é que tiraram Deus do palco para colocarem a si próprios como “ator principal”. Dessa forma, fica valendo a pergunta que fez Philip Yancey: “Quando a sociedade obstrui de forma tão abrangente a sede humana por transcendência, devemos nos surpreender que tais anseios se redirecionem para uma expressão de mero apego ao físico?”. Fica valendo também a resposta que ele mesmo encontrou: “Talvez o problema não seja que as pessoas estejam se despindo, mas que elas não estejam se despindo o suficiente: paramos na pele em vez de ir mais fundos, de ir até a alma”.
         O desafio de ajudar nossos jovens a reencontrar os valores de Deus para suas vidas está lançado. Pais, avós, professores, pastores e líderes em geral precisam resgatar com urgência o código moral e ético da Palavra para inculcá-los nessa geração teen.
         Como você deve ter percebido Lindemberg não é um caso isolado. Eloá não é uma pessoa apenas. Tanto um como o outro são apenas a amostragem que temos de uma sociedade perdida. O iceberg ainda não foi devidamente dimensionado

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