O erro de fazer a coisa certa.
Weslei Odair Orlandi
Houve um tempo em que para ser
socialmente aceito era preciso ser politicamente correto. Hoje em dia, para o
alívio de muitos, não é mais assim.
Afinal de contas, com a valorização da inversão de valores onde o politicamente
incorreto parece ser mais interessante e popular do que o contrário disso, quem
é que quer viver se policiando e procurando andar na linha?
Que se dane a ortodoxia –
principalmente a cristã – com sua exatidão e fidelidade a princípios outrora
tão venerados. Estamos no século XXI. Viva o pragmatismo! Esse sim, é um “cara”
legal, sem frescuras, descolado...
Antigamente (ah, essa palavra – argh!) o segredo de um sucesso era a
integridade das coisas. Hoje, famílias, sentimentos, empregos, vidas e opiniões
não dependem mais disso. Com o advento das ciências tecnológicas, com o
desvendamento do genoma humano, com a liberação sexual, com conquistas
espaciais cada vez mais ousadas e tantas outras evoluções, quem precisa ficar
se estressando com pontos e vírgulas que guardiões sucateados da moralidade
espalham nos caminhos da pós-modernidade?
O cômico, entretanto, é que pensar
assim pode não ser tão promissor. Concordo com o Paulo Brabo quando diz que às
vezes “a relação dos cristãos com a ortodoxia permanece primordialmente
idolátrica – ortodoxolatria –” (por zelo, exageramos um pouco), mas nem por
isso devemos pensar que divórcio, aborto, suicídio, homossexualismo, sexo antes
do casamento e fora dele, mentira, sonegação, drogas, afrouxamento ético e
tantas outras atividades do mundo moderno devem ser acoplados ao dia a dia de
qualquer pessoa que seja.
É por tudo estar assim, tão moderno e
relativizado, que as clínicas psiquiátricas, psicológicas, de aconselhamento e
de recuperação estão cada dia mais movimentadas; isso sem levar em conta os manicômios
e presídios com super populações. Fomos seduzidos pela relativização dos
absolutos; abrimos mão da vergonha, da distinção entre certo e errado; deixamos
de corar diante de situações embaraçosas e agora, livres, modernos,
civilizados, estamos a um passo de não termos mais as rédeas nas mãos.
Ser diferente, revolucionar e
transmutar marcos carcomido pelo tempo em posicionamentos não convencionais tem
o seu glamour, mas também cobra seu
preço. A lei do “importante é ser feliz” sancionada pelos defensores da
liberdade humana parece não ter levado em conta que todo individuo, religioso
ou não, possui em seu interior fios invisíveis que o unem a Deus e que este,
por sua vez, continua repudiando estilos de vida fabricados pela mente
obscurecida do seu arquiinimigo (ele mesmo!).
A verdade (absoluta) é que nós não
estamos sozinhos; não somos donos da nossa vida (quem quiser que não goste
disso); não somos oriundos de uma fecundação espontânea com escala na terra e
destino para lugar nenhum.
O que muita gente chama de rótulo
fundamentalista; o que muitos querem suavizar para não ter de aceitar; o que
muitos lutam para transformar numa simples performance
humana e, a todo custo querem tornar ridículo, na verdade é o lastro que
século após século tem sustentado e possibilitado uma existência humana digna e
socialmente possível.
Não sejamos, portanto, colonizados
pelo engano, pelo modernismo irreflexo e por mentes doentes que não sabem
perceber limites. Não cultuemos e muito menos aceitemos o compasso das
multidões. Pureza de motivos, desapego às coisas perecíveis, amor
incondicional, renúncia, perdão, virtude, sensatez, temor e muitos outros princípios
inegociáveis foram no passado, são hoje e, no futuro continuarão sendo,
critérios essenciais e muito bem vindos.
Ser moderno, convenhamos, não tem a
ver com sujeitar-se à tirania dos sem noção, foras-da-lei inconsequentes e
amigos da insensatez. Ser moderno, ao contrário, é admitir, por ser dotado de
lucidez, que bom mesmo é poder dormir tranquilo sabendo que portas e janelas
estão bem trancadas e deixando de fora ladrões e amantes do mal.
Assim, o erro de fazer a coisa certa
continua sendo o único erro certo. Afinal de contas, certo que é certo, sempre
luta pelo certo, mesmo que ele seja a opção das minorias.
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