O CRISTÃO E SUA SEDE POR VINGANÇA.
POR QUE MUITOS CRISTÃOS ESTÃO APLAUDINDO DE PÉ OS MASSACRES EM MANAUS, BOA VISTA E O ATENTADO CONTRA O APÓSTOLO VALDOMIRO?
2017 não
podia ter começado pior. Em Manaus 64 presos são brutalmente assassinados, em
Boa Vista mais 33. No Brasil 99 presos são mortos em apenas uma semana, mais de
12 por dia. Em São Paulo, dentro da igreja, um pastor é atacado a golpes de
facão. Mas isso não é o pior. Ao meu ver chocante e apavorante não é bandidos
se dilacerarem como feras raivosas nem líderes religiosos serem atacados por
fanáticos e opositores. Ao meu ver, chocante é ver cristãos aplaudindo e até
mesmo lamentando os ataques não terem sido tão bem-sucedidos quanto deveriam.
Bandido
é bandido e seu lugar é na cadeia. Isso é fato. O apóstolo Valdemiro não
deveria ser apóstolo, seus milagres são questionáveis e seu capital financeiro
cheira mal o tempo todo. Isso também é “fato”. Agora, concordarmos com a
violência e até lamentarmos o insucesso da barbárie, isso é absolutamente
preocupante. Onde ficam nesses momentos os ensinamentos bíblicos sobre “amarmos
os inimigos”, “perdoarmos os que nos perseguem”, “não pagarmos o mal com o mal”,
“chorarmos com os que choram” e tantos outros princípios cristãos sobre o amor,
o perdão e a misericórdia?
Jesus,
quando Pedro atacou o servo do sumo sacerdote que prendia seu Mestre e
cortou-lhe uma orelha, foi de uma compaixão e delicadeza tão grande. Reprovou
Pedro, curou o servo e aproveitou para ensinar que violência gera mais
violência.
Não
creio que esse sentimento revoltoso, apoiador e comemorativo que tem mobilizado
a opinião dos crentes em Jesus diante das tragédias sob a égide do argumento de
que eles não são boa gente corresponda ao pensamento bíblico-cristão. Vingança
ou justiça com as próprias mãos não faz parte do espírito que nos move. Jamais
deveríamos nos congratular com a baixeza da maldade. Discordar no campo das
ideias, desejar justiça pelos meios legais contra o crime e não aplaudir
qualquer ato de violência contra quem quer que seja deve ser o slogan de nossa
fé.
Se
um não-cristão como Mahatma Gandhi foi capaz de pregar e viver a
“não-violência”, que dizer de nós que somos filhos do Amor, da Misericórdia, da
Compaixão e da Bondade. "Olho por olho, e o mundo acabará cego", Gandhi afirmou em certo momento. Seu Madruga, personagem do seriado Chaves, foi muito mais "cristão" ainda ao dizer que "as pessoas boas devem amar seus inimigos".
Permito-me
indagar se não estamos falhando nos púlpitos de nossas igrejas quando vemos
nossos discípulos apoiando a desgraça, aplaudindo a violência e ignorando que
ser humano algum deve experimentar o ódio por pior que ele seja. Talvez devamos
repousar outra vez nossos olhos nas Escrituras e nos recordarmos do que diz Paulo,
o apóstolo autêntico, que tantas vezes foi atacado e odiado:
“Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas
dai lugar à ira de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança, eu
retribuirei, diz o Senhor.
Antes, se o teu inimigo
tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo
isso amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça.
Não te deixes vencer do
mal, mas vence o mal com o bem.”
(Romanos 12.19-21)
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